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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Lapinha de Jesus II


Este é um dos poemas que compõem o auto de natal Lapinha de Jesus(1969). Depois que terminei de ler fiquei sem saber o que dizer do livro. Acho que se alguém me perguntasse eu diria que a poesia adeliana, de certa forma, já está ali em seu germe, pulsando, querendo sair pra fora. Mas antes de deixar aqui minhas próprias impressões, transcrevo aos leitores a definição que o próprio livro traz de si (em sua orelha):


Cada povo tem o seu modo especial de viver o imenso acontecimento do Deus que veio morar no meio dos homens. a fé é a mesma em qualquer parte. Mas sua expressão cultural varia de acordo com a sensibilidade e a tradição vivida por cada agrupamento humano.
Lapinha de Jesus é a história do Natal acontecendo nu arraial do interior brasileiro. Neste sentido, este maravilhoso álbum de Natal é uma expressão religiosa e artística da alma do nosso povo vivenciado uma de suas maiores celebrações anuais. Trata-se de um lindo presépio composto em belas figuras criadas em terracota vermelha, e transformado num conjunto surpreendente de fotografias cheias de profunda significação. O texto é denso, mas exprime, em prosa e verso, a ternura e a simplicidade do nascimento do Deus-menino, tal como é festejado pela alma religiosa e cabocla de nossa gente.
Num tempo em que as grandes tradições religiosas populares padecem o impacto da propaganda a serviço de objetivos puramente comerciais, alegra-nos encontrar um trabalho como este, cheio de poesia e gratuidade. Obras assim enriquecem as nossas mais autênticas tradições populares, recuperando-lhes o sentido e ampliando-lhes a mensagem originalmente vivida. Possa a experiência de Frei Tiago Kamps, O.F.M, Adélia Prado, Lázaro Barreto e Gui Manzone inspirar criações semelhantes.
Um trabalho assim, tão original certamente contribuirá para uma vivência mais cheia de sentido de uma das mais belas e universais tradições do povo cristão.

No livro já  podemos encontrar alguns dos temas que irão fazer parte de toda a sua obra. As referências ao cotidiano da casa, aos diálogos familiares, às orações, ou ainda as referências a personagens bíblicas. Encontramos, também, desde aquela época, o apreço de Adélia por Carlos Drummond de Andrade, que, aliás, abre o livro com um de seus poemas de Natal (Acontecimento).
Não podemos deixar de dizer, também, que o livro foi produzido a quatro mãos. Lázaro Barreto, também escritor nascido em Divinópolis, assina o texto juntamente com Adélia, ficando ambos responsáveis pela escritura dos poemas. As fotos do livro recebem a autoria de Gui Tarcísio Mazzoni, fotógrafo de quem não se tem mais notícias. Já a elaboração artística do presépio recebe a autoria do Frei franciscano de Tiago Kamps que também parece não ter deixado nenhum registro a não ser algumas fotos pela internet. Suas esculturas em terracota apresentam muita expressividade, mesmo com a rusticidade do material. Pelas pesquisas encontradas no Google não há nenhum trabalho acadêmico sobre Lapinha de Jesus. Fica aqui o convite para quem tiver o interesse! De minha parte, ofereço toda a ajuda necessária para a realização da pesquisa. Até o próximo post!

sábado, 12 de outubro de 2013

Lapinha de Jesus I

Pouco se sabe sobre o primeiro livro da autora, o auto Lapinha de Jesus, editado pela Vozes (1969). O que podemos afirmar, com certeza, é que ele traz a autoria de Adélia em parceria com o escritor Lázaro Barreto e algumas fotos de Gui Tarcísio Mazzoni. Aliás, poucos leitores da literatura adeliana tiveram a oportunidade de conhecê-lo, talvez por não haver interesse por parte da autora, ou das editoras, em publicá-lo novamente.
Semana passada, alguém que me ama muito, disse tê-lo encontrado em um sebo qualquer e prometeu me presentear com o livro! Assim que recebê-lo farei questão de postar minhas impressões e, quem sabe, alguns trechos para os leitores que desejam conhecê-lo! Aqueles que já conhecem o texto, por favor, comentem o post e deixem suas impressões sobre o livro! Creio que ele deve valer uma boa monografia, ou mesmo uma dissertação de mestrado! Ah! Quase esqueci... Existe um poema da autora que recebe o nome de Lapinha e que se encontra no livro Terra de Santa Cruz (1978) - o segundo livro da autora, que aliás foi agraciado com o prêmio Jabuti. Deixo aqui a transcrição do poema:


Lapinha

Quando éramos pobres e eu menina
era assim o Natal em nossa casa:
quatro semanas antes
a palavra ADVENTO sitiava-nos,
domingo após domingo.
Comeríamos melhor naquele dia,
seríamos pouco usuais:
vinho, doces, paciência.
Porque o MENINO estremecia no feno
e nos compadecíamos de Deus até as lágrimas.
Olhando a manjedoura, o que eu sentia
- sem arrimo de palavras - 
era o que eu sinto ainda:
'O desejo de esbeltez será concretizado.'
À luz que não tolera excessos,
o musgo, a areia, a palha cintilavam,
a pedra. Eu cintilava.


Lindo o poema, não?! Vou ficando por aqui! Assim que receber o livro conto pra vocês o que achei. Até lá!